O papel da Ansiedade em Divertidamente 2

Divertidamente 2 (Inside Out 2), 2024, Pixar - Dirigido por Kelsey Mann

Divertidamente é um grande filme, eu simplesmente amei o primeiro. Ver a jornada da personagem Alegria entender que ela precisa da Tristeza é simplesmente uma aula sobre maturidade emocional. Inclusive, tenho um vídeo analisando o filme no canal e vou deixar o link ao final.

Porém, Divertidamente 2 deixou a desejar com a aula de psicologia. O filme é bom e bem desenvolvido, a introdução dos novos personagens na puberdade fez sentido para a narrativa, mas não para as emoções em si. Deixe-me explicar antes que você comece a me apedrejar.

As cinco emoções iniciais — Alegria, Tristeza, Medo, Nojinho e Raiva — já eram suficientes. Se formos ver a essência das emoções, que foi algo que o primeiro filme trouxe com excelência e por isso abre a porta para uma análise profunda desse tipo, não precisaríamos de novas emoções para a fase da puberdade.

A Ansiedade, personagem antagonista principal da sequência, não é nada mais do que o excesso de medo do futuro. Quando uma pessoa é ansiosa ou tem crises de ansiedade, a raiz desses sentimentos vem do Medo. A Riley fica consumida pelo medo do que podia dar errado, do que os outros iriam pensar, das mudanças que a pegaram de surpresa, medo de ficar sozinha e perder suas amigas, de não conseguir entrar para o time de hockey, e tantos outros. E esse medo causou nela o que chamamos de ansiedade e, dominada por ela, começa a agir de forma atípica.

Neste caso, não precisaríamos da personagem Ansiedade, pois quem deveria estar no controle era o Medo que sempre existiu. E ao contrário do primeiro filme, em que a jornada da Alegria com a Tristeza coincidia com a jornada emocional da própria Riley, no segundo não teve essa conexão dos arcos dos personagens.

Isolados da cabine de controle, todas as emoções precisam encontrar uma forma de tirar a ansiedade do controle, enquanto Riley desmorona emocionalmente, perdendo as ilhas de seus valores essenciais. A lição que a Riley aprende não está relacionada com a jornada das emoções; são duas histórias paralelas que chegam à mesma conclusão: a ansiedade não pode tomar controle das decisões. Mas não há ali uma jornada emocional que conecta os problemas que a Riley está vivenciando com os problemas da Alegria e companhia.

Personagens Vergonha, Ansiedade, Inveja e Tédio.

O mesmo vale para a Inveja, Vergonha e Tédio. Suas essências podem estar quase todas nas cinco emoções iniciais. O tédio e a inveja poderiam vir da Nojinho, deixando apenas a Vergonha como a única nova emoção que faria mais sentido existir independentemente. Mas como elas não tiveram um impacto forte nos eventos que direcionam a narrativa, tirando apenas o momento em que a Vergonha ajuda a Tristeza a trazer as emoções de volta e impedir a Ansiedade, é desnecessário aprofundar no motivo de suas existências.

Por fim, a Alegria precisa correr contra o tempo para impedir que a Ansiedade destrua todos os valores intrínsecos à personalidade da Riley, enquanto ela se afasta das amigas e toma decisões erradas. Ao final as emoções finalmente conseguem voltar à base de comando, a Riley desaba no choro e suas amigas a abraçam confortando-a. Não há um grande aprendizado das emoções como o primeiro filme entregou, apenas uma aventura e corrida contra o tempo para resolver todo o caos instaurado pela Ansiedade.

O roteiro de Divertidamente 2 não é ruim e nem apresenta falhas grotescas, apenas deixou a desejar na profundidade que seu antecessor nos presenteou. Todo o universo de estar dentro da mente, sua funcionalidade e relação com a vida real continuam excelentes e muito bem desenvolvidos, mostrando um bastidor das emoções com um novo olhar e criatividade.

Não é justo comparar com o primeiro filme, pois ele realmente mereceu seu Oscar de Melhor Roteiro. Porém, por ser uma continuação, essa comparação precisa existir. Entenda a minha paixão pelos filmes da Pixar e assista a uma breve análise de Divertidamente.

E você, o que achou de Divertidamente 2? Deixe nos comentários.