Quando bate o desespero

Reparei uma mudança em mim. Estou mais forte emocionalmente, o que é uma grande conquista. Eu diria que os últimos sete anos não foram fáceis. 2017 foi quando tive a minha primeira crise de pânico, que acabou se transformando em um burnout. E no final de 2022, novamente tive uma crise forte que desencadeou em uma depressão profunda.

Tem um tempo que eu quero escrever sobre isso, mas o assunto é tão complexo e delicado que eu acabo desistindo. Porém, dessa vez, não vou fugir. E espero que meu breve relato te ajude a entender a sua situação ou a situação de alguém próximo. O que escrevo aqui não é baseado em estudos médicos e científicos, mas na minha experiência e coloca a minha opinião sobre temas que você tem todo o direito de concordar ou discordar, porém não tem o direito de desvalorizá-la ou diminuí-la. Enfim, vamos lá...

Você sabe a diferença entre a causa e o efeito? A causa é o que dá origem e o efeito é a repercussão de algo. Para a ansiedade nós temos causa e efeito, que eu gosto de chamar de motivo e situação. O motivo seria a raiz do problema, algo interno e que está ao nosso alcance para mudar. A situação é o que gera a ansiedade, algo externo e que não está ao nosso alcance, logo não conseguimos mudar.

Falar sobre a ansiedade já é algo comum, mas eu tenho reparado que estamos andando em círculo, falando sobre a situação, focando nos fatores externos ao invés de focarmos nos fatores internos e que realmente levam à mudança. Falo no plural porque é algo que fazemos como sociedade, afinal falar sobre os temas internos é muito mais difícil. Por quê? Porque é algo único, não tem uma fórmula rápida para melhorar, requer tempo e autoanálise, uma boa terapia e dedicação na sua saúde como um todo.

Como escritora eu gosto de observar o comportamento da sociedade, gosto de analisar nossos hábitos e comportamentos e como eles nos afetam. E um hábito que tenho visto crescer muito, principalmente com o avanço das redes sociais, é o "vitimismo". O vitimismo é uma síndrome em que a pessoa sempre se vê como vítima, nada do que acontece é escolha dela e tudo é causado por fatores externos e impostos em sua vida. Eu chamo de síndrome porque é algo que excede a realidade, e que acaba gerando um comportamento maléfico para a saúde mental da pessoa.

Sim, existem inúmeras situações que nós não temos controle e que somos vítimas do que foi imposto em diferentes escalas. Desde a família onde nascemos, que não é nossa escolha, até acidentes ou ações de outras pessoas. Você deve estar se perguntando como o vitimismo está relacionado com a ansiedade. É simples, uma vítima da ansiedade é aquela pessoa que nunca analisa o motivo da ansiedade, mas sempre está alerta e atenta às situações que causam ansiedade. Geralmente são aquelas pessoas que sempre dizem "não consigo trabalhar com atendimento ao público porque isso ataca a minha ansiedade" ou então "não gosto de sair de casa porque acabo sempre tendo uma crise de ansiedade". São inúmeras as situações que podem causar a ansiedade, e inúmeros os motivos para ser vítima dela.

A vítima, por gastar toda a sua energia e foco nos fatores externos, acaba negligenciando o tratamento do motivo e a busca por mudança. É muito comum que uma vítima muito bem informada saiba dizer direitinho a raiz de todos os seus problemas, porque ela já fez uma autoanálise profunda, já tentou a terapia, porém nunca deixou de ser vítima porque não partiu para a mudança.

Em 2017, quando tive a minha primeira grande crise de pânico, eu tentei a terapia por um tempo e assim que comecei a me sentir melhor parei. Não me colocava formalmente na categoria de vítima, porque eu estava realmente querendo mudar, mas por ainda não ter a capacidade de mudar, era uma vítima. Ou seja, a ansiedade tinha o controle sobre mim. Eu ficava impossibilitada de fazer algo que eu queria ou gostava porque a ansiedade me impedia. Algumas situações eu até sabia o motivo, a raiz do problema, mas não sabia como gerar a mudança e por isso permaneci no estado de vítima. Foi só em 2022, quando atingi o fundo do poço e voltei a fazer terapia, que comecei aos poucos a gerar a mudança.

Fui tendo conquistas pequenas para quem está de fora, mas que na época e considerando o estado em que eu estava foram conquistas gigantescas, como, por exemplo, conseguir sair de casa sozinha e depois de um tempo conseguir pegar ônibus sozinha. A minha ansiedade era tão ruim que essas coisas simples e rotineiras eram dificílimas de fazer e nem cogitava que em 2024 eu seria capaz de ir para outro país sozinha. Foram quase 2 anos de muita luta, porque eu precisei aprender a me defender emocionalmente e mentalmente para deixar de ser uma vítima da ansiedade. Primeiro passo para deixar de ser uma vítima é agir, segundo passo continuar agindo, terceiro passo continuar agindo, quarto passo, adivinha? Isso mesmo, continuar agindo.

Sair da inércia do vitimismo e começar a se mover em direção a uma melhora e mudança é o mais difícil, depois você só precisa continuar fazendo o que está dando certo e ir se desafiando a melhorar um pouquinho de cada vez e quando menos esperar você já não é mais uma vítima da ansiedade, agora você consegue trabalhar com o público porque o que te fazia sentir ansiedade já foi tratado.

E a pergunta que vale um milhão: como tratar a raiz da ansiedade? Eu te recomendo duas coisas que me ajudaram muito! Primeiro, terapia, mas uma boa terapia, tem que ser aquela que te faz chorar e cutucar as feridas, não pode ser um terapeuta que passa a mão na sua cabeça, você não está pagando para ter um amigo, você está pagando para tratar a raiz dos seus problemas emocionais que muitas vezes têm origem lá na sua infância, então faça terapia direito. Segundo, fé, me conectar com Deus foi o que me fez conseguir mudar tão rápido.

Eu sou cristã desde os meus 12 anos, então ter fé já fazia parte de mim mesmo quando eu estava mal. Não era a ausência de fé que me fazia ter ansiedade, porque no meu caso ela sempre esteve lá. Eu sempre soube que Deus me ama, que Ele enviou o seu filho Jesus Cristo para morrer na cruz pelos meus pecados e que ao terceiro dia ele ressuscitou e venceu a morte, e que por causa do sangue de Jesus derramado na cruz eu fui justificada e por isso tenho a salvação. Sempre tive essa certeza, mas tinha algo que eu não tinha certeza ainda, apesar de achar que eu tinha: a minha identidade em Cristo.

Eu achava que eu sabia que eu era amada por Deus, mas na prática eu não estava vivendo essa verdade. Não estava vivendo como alguém que sabe que o criador do universo escolheu me amar, independente do que eu já fiz na vida, e que seu amor é incondicional. Vale colocar aqui que eu fui entender isso na terapia, quando eu entendi a visão distorcida de amor de pai que eu tinha por coisas que aconteceram quando eu era apenas uma criança vulnerável e que por causa desse entendimento distorcido eu não conseguia entender o amor de Deus por completo, principalmente entender a figura de Deus Pai.

Mas assim que eu saí do hospital e voltei para casa eu decidi que iria buscar a Deus, tive uma dessas experiências de "quase morte" que as pessoas relatam e isso me fez entender a minha pequenez e a minha fragilidade, e por isso queria buscar em Deus um refúgio, um abrigo seguro. E foi exatamente o que eu encontrei e muito mais. Cada vez que eu abria a minha Bíblia para ler Deus falava comigo de forma tão clara que antes eu nunca tinha experimentado. Toda vez que eu tinha uma dificuldade e chorava pedindo a Deus por ajuda eu sentia uma paz inexplicável. E essas experiências continuam até hoje. Continuo tendo momentos difíceis, mas desde março de 2024 eu não me sinto mais como vítima da ansiedade, sinto que tenho controle sobre os meus sentimentos, consigo me defender quando algo me afeta diretamente, e todos os dias em momentos bons ou ruins eu busco a Deus.

Nessa história toda, de todas as pessoas da minha vida e de todas as situações que eu vivi, Deus foi o único que não mudou. Ele continuou sendo amoroso e bondoso. Mesmo nos momentos mais difíceis ao analisar a situação com a ajuda da terapia eu conseguia ver ali a bondade, misericórdia e cuidado de Deus. Ter fé em Deus não me impede de ter momentos ruins, mas me impede de ficar desesperada no meio da tempestade. Por Ele nunca mudar, por seu amor ser incondicional, eu sei que eu posso fazer dele a fonte da minha alegria e da minha força. Porque se depender de mim a alegria e a força vão sempre oscilar. E porque Ele me ama, eu o amo e decido viver cada dia para Ele, viver cada dia para glorificá-lo. Eu não faço a vontade de Deus para ter bênção e sim o contrário, faço a vontade de Deus por causa de suas bênçãos.

Foi quando eu mudei esse entendimento na minha fé que as coisas começaram a ficar mais leves e a mudar. Deus deixou de ser um Pai que exigia um comportamento correto meu para que eu fosse aceita e passou a ser um Pai que apesar do meu mau comportamento continua me amando e por causa disso eu busco mudar meu comportamento, porque eu sei que Ele quer a minha alegria e o meu bem para a vida eterna. Eu sei que o que Ele deseja para mim é muito maior e melhor do que eu sinto ou desejo e por isso deixo de ser vítima dos meus sentimentos.

É uma história longa e que eu quis dar o máximo de detalhes relevantes possíveis, porque eu sei que viver no vitimismo não é saudável, eu sei como é se sentir aterrorizado quando o desespero bate. Mas eu também sei como é não viver mais nesse estado e ter paz, e por isso eu preciso compartilhar com você em detalhes como eu encontrei a minha paz, como consegui entrar em um estado de mudança. Espero que você a encontre também! Até a próxima.