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Quando eu resolvi fazer uma animação em stop motion

  • Foto do escritor: Marina Rodrigues
    Marina Rodrigues
  • 25 de mar.
  • 7 min de leitura

Foi em julho de 2024 na FEFICC em São Paulo que estreei meu primeiro curta em stop motion. E essa decisão mudou minha vida por completo!

portas stop motion

No meu post anterior, eu compartilhei um pouco da minha história pessoal e que março de 2024 foi o início de grandes mudanças. Pois então, eu estava decidida a me reconectar com a minha paixão: Cinema, e decidi fazer sozinha, com os recursos limitados de uma pessoa desempregada e com muito tempo livre, um curta em stop motion. Isso sempre me faz lembrar da cena de Parks and Recreation em que o Ben gasta semanas em seu stop motion para no final ter apenas alguns segundos de cena. É engraçado porque é verdade! A técnica do stop motion é uma animação por fotos — você praticamente precisa criar todas as suas miniaturas, personagens, cenários, objetos de cena e depois animar, quadro a quadro, cada movimento.


Para entender quantas fotos você precisa tirar para o seu projeto, você precisa entender quantos quadros tem em um segundo. O padrão do cinema, e como a maioria dos filmes de live action que vemos no cinema, é de 24fps — ou seja, 24 quadros por segundo. Então uma cena de 3 minutos terá no total 24 × 60 x 3. Porém, para a animação em stop motion, você pode optar por ter menos quadros ou não. Isso vai influenciar na fluidez dos movimentos. Os 24fps foram estipulados como padrão, pois é a quantidade ideal para que o nosso olho não perceba a passagem de uma imagem para a outra e tenhamos a sensação de estarmos vendo o movimento em tempo real, vulgo o que hoje chamamos de filme. Sim, um filme nada mais é do que uma sequência de imagens passadas muito rápido.

Essa breve e péssima aula foi só pra te explicar que para fazer um curta de 3 minutinhos em stop motion eu precisei de pelo menos 4.320 fotos. Na minha inexperiência, pode ser que eu tenha usado um pouco menos. Minha conta foi com base em 18 fotos por segundo. Mas ainda assim, é muito trabalho e detalhe. Optei por não utilizar nenhuma animação digital e fazer tudo manualmente, o que deu um trabalhinho extra. Por não ter um espaço de estúdio, mas apenas o espaço livre no meu quarto, optei pelo menor tamanho possível para meus personagens e cenários. Os personagens têm a altura média de 5cm. E foram todos construídos com arames, biscuit, linhas e tecidos. Os cenários também foram feitos de papel, papelão e palitos de picolé. Queria que o filme tivesse esse ar de feito à mão e que fosse perceptível os materiais base para construir os cenários, objetos e personagens.



Criar as miniaturas foi a parte mais fácil! Pelo menos para mim. A parte de animar e fotografar foi o mais difícil, pois precisava manter a consistência e fluidez dos movimentos, os enquadramentos, a luz, o foco, e a interação com os objetos de forma que, ao colocar as fotos em sequência na edição, eu tivesse o mínimo de trabalho possível. Não deu certo, e eu gastei muito mais tempo do que esperava na edição para consertar os problemas da captação. Tive que optar por decisões drásticas e que exigissem menos do meu tempo, pois meu prazo estava chegando ao final. Dei início à produção do curtinha em fevereiro, refinando o roteiro e comprando o material necessário, e finalizei a edição dois dias antes de viajar para São Paulo para apresentá-lo na FEFICC em julho.

Para quem não conhece, a FEFICC é a maior Feira de Ficção Cristã e Cultura do Brasil, idealizada pela autora Sara Gusella — outra mineirinha de Belo Horizonte e uma pessoa que admiro muito. Ali é simplesmente um lugar incrível para quem deseja conhecer autores e criadores cristãos e suas respectivas obras. Simplesmente um paraíso para quem é apaixonado por livros e cultura! E não, este post nem é patrocinado, quem dera! hehe... Mas se você ficou interessado pode seguir o perfil oficial no Instagram e já se preparar para participar da edição de 2025 em São Paulo de 16 a 19 de julho.

Enfim, voltando ao meu curtinha. O mais interessante desse processo todo é que eu já tinha programado começar a preparar o curta e, ao me encontrar com a Sarinha em um casamento de uma amiga em comum, eu comentei que estava trabalhando no curta. Detalhe que, quando comentei, eu estava na fase de planejamento ainda e nem tinha comprado todos os materiais necessários. E então, desse comentário, ela me convidou para fazer a estreia do curta na FEFICC e dar uma palestra sobre Cinema. Se não fosse pela minha decisão de me reconectar com o Cinema, essa porta nunca teria sido aberta. E este desafio pessoal que eu fiz para mim mesma me ensinou 3 lições preciosas.

1 - Me desafiar constantemente, testando meus limites criativos.

Aprendi a perder o medo de errar, que eu criei com o tempo. Algumas experiências profissionais me marcaram de forma negativa e uma delas foi a constante exigência por perfeição; sempre fui uma pessoa detalhista e até um pouco perfeccionista demais, e trabalhar em um ambiente onde errar uma vírgula na legenda de um filme era motivo de pena de morte não me ajudou. Acabei criando uma aversão enorme ao erro e, sem perceber, isso foi matando a minha criatividade. Se você não sabe, a criatividade precisa de permissão para errar, e a arte do cinema tem basicamente 99% de chances de tudo dar errado. Você aposta tudo nesse 1% e cria soluções para os problemas à medida que eles vão aparecendo. Se o ambiente em que você está, seja ele uma empresa ou a sua própria cabeça, não te permite tentar e errar, você deixa de focar nos 1% e foca nos 99%, o que gera apenas frustrações e um olhar pessimista para tudo. Lembre-se que para se criar algo novo você precisa arriscar e apostar tudo no 1%. É isso que te faz testar seus limites e ser criativo.

2 - Confiar na minha capacidade de aprender algo novo.

É impossível a gente saber tudo antes de começar algo. E por isso conseguir confiar na sua capacidade de aprender algo novo é importante. Isso que te faz ser uma pessoa destemida e ousada. Eu tinha trabalhado com stop motion apenas uma vez na minha vida antes de fazer esse projeto e foi bem mais simples e mal feito do que o de agora. Mas eu queria tentar, queria provar pra mim mesma que se eu tenho um objetivo eu consigo correr atrás e fazer acontecer, mesmo que não seja perfeito. Eu era assim na faculdade e quando comecei a trabalhar e, novamente, fui perdendo essa determinação. Mas sabia que se eu me comprometesse aos poucos ia recuperar essa confiança. Acho que todos nós temos um grau de ousadia dentro de nós, a gente só precisa encontrar oportunidades que nos permitam agir com confiança e ver nossa ousadia florescer.

3 - Redescobrir meus talentos e sonhos.

A vida adulta não é gentil, do nada os boletos começam a chegar, as relações pessoais começam a ficar cada vez mais complexas, as feridas emocionais vão aumentando, e se não tomarmos cuidado ela passa por cima com a força de um caminhão sem freio e mata nossos sonhos. Tudo vira rotina entediante e, na busca por algo para distrair nossa mente, nos rendemos a rolar o feed e consumir conteúdos já prontos como se fossem um ansiolítico moderno. Por isso eu precisava de algo que me fizesse reconectar com o que eu genuinamente gostava e sonhava em fazer. Sem me preocupar com boletos para pagar. Não é fácil encontrar esse tempo, alguns chamam de privilégio poder ter um tempo para fazer isso. Concordo em partes, sim foi um privilégio porque eu pude investir meu tempo em algo que não estava dando nenhum retorno financeiro e continuei tendo um teto para morar e comida para comer. Mas não vejo como uma dádiva, pois me custou muito caro tirar esse tempo. Custou a minha saúde emocional e mental. Se eu pudesse te aconselhar em algo eu diria para se reconectar com os seus sonhos e redescobrir os seus talentos o quanto antes, pois a sua saúde mental não tem preço. Não tem salário que compense te fazer adoecer e te levar a se autodestruir. Aproveite enquanto sua mente ainda tem o mínimo de sanidade e tire um tempo para isso, nem que sejam algumas horas do seu dia. Confie em mim, você não se arrependerá de substituir as redes sociais ou os vídeos da internet e streamings por algo que te ajude a lidar com seus pensamentos acelerados; ignorá-los não é uma boa opção, o ideal é calá-los, e para isso você precisa se esforçar até conseguir sentir paz ao ficar sozinho com seus próprios pensamentos sem ter a constante necessidade de entorpecer a sua mente com conteúdos.

Parecia que eu ia escrever algo leve, mas acabo sempre voltando aos temas mais profundos. Acho que por tudo ainda estar recente, este assunto é um tema recorrente para mim, principalmente quando vejo e sei que tem pessoas que eu conheço que estão passando por algo semelhante ao que passei. Não importa o que você gosta de fazer — desde que não seja ilegal e que não vá te prejudicar e nem condenar a sua alma — eu te aconselho a correr atrás. Se o que você deseja é algo ruim para você mesmo, busque por ajuda, faça terapia, busque a Deus, mas não fique sozinho e nem se isole; você pode não pensar assim agora, mas a sua vida é sim muito preciosa e você tem sim um propósito para estar nesse mundo.

Deixo aqui o curtinha para você ver o resultado de quase 5 meses de trabalho, e quem sabe um dia eu finalmente edite os bastidores e compartilhe aqui. Obrigada pela leitura e até a próxima!


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4 comentários

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29 de mar.
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Esse post nos fez refletir e procurar mudar nossa conduta em algumas coisas . Emocionante! E acho que muito mais pessoas deveriam ouvir esse testemunho

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Raquel Maciel
Raquel Maciel
26 de mar.
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Você e seus textos que me fazem chorar e refletir... ha, o curta é simplesmente lindo!

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Raquel Maciel
Raquel Maciel
26 de mar.
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Processo de criação do stop motion é realmente bem longo e complexo haha...

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Convidado:
26 de mar.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Que lindo curta! Parabéns pelo trabalho e dedicação.

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